Em conversas com o meu professor de projecto, falava-lhe das razões para a implantação das capelas mortuárias, da escolha do sítio, por ser um pouco sombrio e mais lúgubre.
Ele ficou surpreso. Colocar um sítio de perda num sítio ainda mais sombrio? Que um funeral deveria decorrer em ambiente de luz, de energia positiva, como local de imposição de nova vida, alegre (não foi bem assim que o disse, mas a bem dizer, era isto).
E depois expliquei-lhe que pertencia àquele grupo de pessoas que quando está triste ouve música melancólica para ficar ainda mais triste.
Nunca ninguém me morreu, pensei. Mas depois lembrei a dor da perda: senti-a quando o meu hamster morreu de pneumonia, a dor de o perder, o sentimento de culpa, o achar que poderia ter feito mais qualquer coisa. E nem um lugar ensolarado, branco e luminoso me poderia alegrar nesse dia. Enfiei os óculos escuros e esperei que ninguém me dirigisse a palavra.
O meu professor está enganado, a arquitectura não pode tornar as pessoas felizes, ou menos tristes num dia em que tudo nos faz sentir deprimidos: a certeza de não mais ver alguém de quem gostamos, a ideia de que poderíamos ter sido melhores para com a pessoa que parte, que não fizemos tudo, que não dissemos tudo, que não mostramos o quanto a amávamos.
Não, nenhum sítio luminoso tem o poder analgésico em dias assim, não será o branco das paredes que me fará sorrir, quando sinto que o mundo se abate, quando a pesada porta se fecha e nós ficamos do lado de cá, apartados de quem vai.
Um desfiar de memórias, num lugar bucólico e enevoado, onde ninguém possa ver os olhos vermelhos de choro, onde o vazio não faça ecoar os meus soluços, onde ninguém me venha dar abraços de compaixão. Quero um lugar para sofrer sozinha, e não um sítio que me diga para sorrir. Que mania terrível esta, que tudo à nossa volta tem, de nos dizer para contrariarmos o que sentimos.
"não chores, deixa lá, esquece isso"
Deixem-nos sofrer. Porque queremos, porque gostamos e porque é a nossa vontade.
leste-a toda helena ! ? sim, vem do além, desde 1806... do Rito Simbólico Regular, do Rito Escocês, do Rito de Heredom, do Rito Eclético Lusitano e do de Adopção.
4 comments:
mas já o remedas.t por isso...
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(tixa)
Em conversas com o meu professor de projecto, falava-lhe das razões para a implantação das capelas mortuárias, da escolha do sítio, por ser um pouco sombrio e mais lúgubre.
Ele ficou surpreso. Colocar um sítio de perda num sítio ainda mais sombrio? Que um funeral deveria decorrer em ambiente de luz, de energia positiva, como local de imposição de nova vida, alegre (não foi bem assim que o disse, mas a bem dizer, era isto).
E depois expliquei-lhe que pertencia àquele grupo de pessoas que quando está triste ouve música melancólica para ficar ainda mais triste.
Nunca ninguém me morreu, pensei. Mas depois lembrei a dor da perda: senti-a quando o meu hamster morreu de pneumonia, a dor de o perder, o sentimento de culpa, o achar que poderia ter feito mais qualquer coisa. E nem um lugar ensolarado, branco e luminoso me poderia alegrar nesse dia. Enfiei os óculos escuros e esperei que ninguém me dirigisse a palavra.
O meu professor está enganado, a arquitectura não pode tornar as pessoas felizes, ou menos tristes num dia em que tudo nos faz sentir deprimidos: a certeza de não mais ver alguém de quem gostamos, a ideia de que poderíamos ter sido melhores para com a pessoa que parte, que não fizemos tudo, que não dissemos tudo, que não mostramos o quanto a amávamos.
Não, nenhum sítio luminoso tem o poder analgésico em dias assim, não será o branco das paredes que me fará sorrir, quando sinto que o mundo se abate, quando a pesada porta se fecha e nós ficamos do lado de cá, apartados de quem vai.
Um desfiar de memórias, num lugar bucólico e enevoado, onde ninguém possa ver os olhos vermelhos de choro, onde o vazio não faça ecoar os meus soluços, onde ninguém me venha dar abraços de compaixão. Quero um lugar para sofrer sozinha, e não um sítio que me diga para sorrir. Que mania terrível esta, que tudo à nossa volta tem, de nos dizer para contrariarmos o que sentimos.
"não chores, deixa lá, esquece isso"
Deixem-nos sofrer. Porque queremos, porque gostamos e porque é a nossa vontade.
sim
não
não só
mas também
esta mensagem vem do além?
leste-a toda helena ! ? sim, vem do além, desde 1806... do Rito Simbólico Regular, do Rito Escocês, do Rito de Heredom, do Rito Eclético Lusitano e do de Adopção.
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